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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

RESTART: Puta falta de sacanagem com a história do Rock Nacional?

foto: UpMusic Video
 Você gosta do Restart? “Eles são lindos, são minha família!”, dirá emocionada a púbere, exibindo seus pôsteres, sua carteirinha oficial de fã-clube, seus downloads, seu caderno de autógrafos, seu guarda-roupas, seu álbum de figurinhas do quarteto, quase completo após mascar muito chicletinho de tutti-frutti da Buzzy, como se pudesse absorver o espírito Emo Fruit até o último vestígio de sabor, som e cor.
Você gosta do Restart? “Bando de viado, cara! Essas bichas são uma vergonha musical!”, sentenciará o roqueiro, carente de atenção no cenário atual, com uma lista de palavrões dedicados à tribo Emo, com aquela nostalgia manjada de Dylan, Lennon, Raul, Renato Russo e Cazuza, recendendo um machismo trash-metal , um descontentamento pós-punk e uma lamúria progressiva.
Na paleta hiper-colorida do Restart, duas cores são sugestivas: verde-limão para adolescentes (uma imaturidade exibida em neon?); vermelho-sangue para os roqueiros (rostos enrubescidos, raiva, vergonha ou inveja?). Entre a ojeriza e a idolatria, o arco-íris pop persiste no alto, chamando a atenção nas paisagens midiáticas, despreocupado com sua essência fugaz. Aliás, arco-íris que resulta do dilúvio musical propiciado pela internet, na qual torrentes de up/downloads fizeram o mundo dos discos imergir. Nesse novo panorama musical, o Restart representa também o recomeço da indústria fonográfica, que finalmente parece ter entendido que não há como reverter a submersão do copyright e que escapar ao naufrágio requer novas técnicas de navegação e negociação. Mais importante que lançar um CD é construir uma marca.
O sucesso do Restart provavelmente não teria sido alcançado sem a internet. Youtube, MySpace, Twitter, Orkut, Fotolog, enfim, todos estes espaços se tornaram fundamentais para que se construa uma marca, sendo a divulgação musical um item quase secundário. A produção de uma banda requer hoje um aparato complexo de técnicas que se pautam sobretudo pela concretização de uma imagem que possa ser facilmente vendida em mídias diversas. Como se deve fazer para que o público da internet compre os CD’s? Como fazer para vender os shows de uma banda nova? Como conquistar as FM’s e os programas de auditório da MTV? Quantos produtos eu posso oferecer com essa imagem e essa marca musical?
Por outro lado, assim como o visual do Restart, essa valorização da imagem em detrimento da própria música não é nenhuma novidade. O universo pop é fundamentalmente construído a partir da imagem. O próprio Rock é um macro-gênero que sempre esteve diretamente ligado à moda, à dramaturgia e à construção cênica. O que seria de Elvis sem sua reboladinha “pornográfica”? Do Kiss sem sua maquiagem bregona? Retirando a bizarrice visual, o que sobraria de Marilyn Manson ou do SlipKnot? Cabe lembrar ainda que mesmo esse uso de tantas tintas pelo quarteto remete à androginia colorida do glam rock e tem um parentesco próximo com bandas dos anos 80 como Poison e Cinderella. Talvez o diferencial imagético do Restart seja uma certa dose de mangá japonês no look e na combinação de cores, somados aos óculos wayfarer e os sneakers. Só isso. Só isso?
foto: Last.FM
De fenômeno no MySpace (mais de 2 milhões de acessos só em 2009), Pe Lanza, Pe Lu, Koba, Thomas e Tinky Winky (desculpem, não resisti à piada do "quinto integrante"!) passaram a fazer parte do mainstream, cooptados pela Som Livre, apadrinhados pela MTV, figurando sempre nas manchetes das revistas teen, participando de reality shows, gerando tumultos histéricos (como o da FNAC) e prestes a se tornar filme (pela Paranoid Filmes, de Heitor Dhalia!). Diante dessa meteórica ascensão do grupo, pode-se perceber que existe uma nova economia do mercado fonográfico que tem gerado novas possibilidades para a formação de público e que, em boa medida, tem desagradado há algum tempo os críticos musicais e os consumidores que formaram seus gostos e conceitos a partir da demodé apreciação do disco.
Basicamente, quero dizer que não vale a pena considerar o Restart bom ou ruim, expondo apenas a mediocridade easy listening que infesta as rádios sob o rótulo de Emocore. Cabe também analisar o sucesso do grupo em paralelo a essa nova economia de mercado, firmada na diversificação das mídias e em um tipo de consumo que produz lucro a partir dos shows e produtos extra-musicais, ao invés da antiga compra de discos. Isso explica, por exemplo, o fato de muita gente ter torcido o nariz para os cinco prêmios ganhos pelo quarteto no VMB 2010. A premiação sempre foi vista com certo respeito pela crítica, uma vez que possuia um juri técnico que avaliava as qualidades estéticas dos grupos musicais, dos CD’s e dos videoclipes (grupos como Titãs, Racionais, O Rappa, Skank, Paralamas, foram vencedores nesse formato). Contudo,  a partir de 2007, o VMB passou a ser comandado pelo voto popular, desfazendo-se as categorias técnicas, o que levou grupos como NX Zero e Fresno à conquista dos troféus. E não adianta recriminar-mos o voto popular ou a MTV, pois trata-se, como já notamos, de uma nova condição de mercado, e qualquer premiação nunca é feita com base em juizos puramente estéticos, mas a partir de determinados segmentos, nichos lucrativos que produzem índices de consumo.
Assim, o fato é que o Restart tem empolgado os corações adolescentes, vendendo-lhes a idéia de “família”, jogando baldes de tinta em identidades cada vez mais apagadas (vide o videoclipe oficial da música “Recomeçar” em http://www.youtube.com/watch?v=8C5NTA7Y6tg ), dando cor a tribos juvenis provisórias que se guiam por uma estética vibe e não mais por qualquer busca ideológica (enquanto a geração de Cazuza clamava por uma ideologia, esta mostra-se indiferente a ela). O visceral que sempre adjetivou o rock parece ter se atrofiado nesta nova estética. Ao que tudo indica, as cores do Restart desbotarão logo, mas até lá, uma nova geração vai tecendo sua história, expressando sentimentos à sua maneira e gerando novas formas de comunicação. Linguagens que as antenas críticas captarão apenas tempos depois do fenômeno.

(PEREIRA, Volmir Cardoso. RESTART: Pura falta de sacanagem com a história do Rock Nacional? Disponível em http://www.academiadolixo.blogspot.com . Publicado em 10 de dezembro de 2010.)

REFERÊNCIAS:

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"VIVER ULTRAPASSA QUALQUER ENTENDIMENTO" (C. L.)

6 comentários:

  1. é meu caro, estamos no fim dos tempos...
    o ser humano é ambicioso e até faz coisas bizarras e grotescas para conseguir grana e poder,como a moda emo, seus fãs nao percebem, mas eles estão enchendo o cu de grana e nao estão nem ai pros fãs...hj em dia oq eh mais lucrativo, são as musicas simples e com letras bem infantis...

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  2. Cada época ou geração tem o seu Menudos...
    simples assim...

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  3. Você realmente fala muito bem, toda a verdade, maas ainda continuo com a minha opinião, gosto das músicas deles,mas nunca deixei de ouvir, Titãs,Renato Russo ;)

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  4. Parabéns Volmir, gostei do texo, pois acredito que muito além de criticar o fazer algum tipo de apologia a determinados "estilos/modas" musicais é necessario entendermos que as bandas industriais como por exemplo o Restart são produtos do gosto de um segmento da sociedade conteporanea, industrial, imedietista que influenciam nas modas, no comportamentos e nos usos de centenas de jovens que compõem os diversos grupos da sociedade.

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  5. não, eu não gosto nem um pouco desse estilo isso porque sou jovem,eles inventam qualquer coisa para ficar famosos, quanto mais exotica mais famosos ficam, até parece que se importam com os fãs, eles querem ganhar grana os fãs que são bobos e fazem tudo por eles, eles não estao nem ai para fãs.

    leticia Rocha

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  6. Belo texto...

    Essa banda é ruim, moda, idiotia desafinada de letras absurdamente FRACA...

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